O desenvolvimento humano é um processo complexo que acontece de forma não linear. Desde a gestação até a vida adulta, os indivíduos seguem padrões que influenciam o crescimento motor, cognitivo, sensorial e emocional. Esses avanços são chamados de marcos do desenvolvimento. Eles servem como um guia para avaliar se as crianças estão se desenvolvendo de acordo com o que é esperado para a sua idade.
Os marcos vão desde a capacidade de sustentar o pescoço aos 2 meses, até a formação de frases e a construção de relacionamentos sociais. Eles são essenciais para identificar possíveis atrasos e levantar hipóteses sobre condições neurológicas que podem impactar o crescimento infantil.
O que é neurodivergência?
Neurodivergência é um termo que abrange pessoas cujo funcionamento cerebral é diferente do que considerado normal, ou neurotípico. Isso inclui uma variedade de condições, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia e dispraxia. Estas condições, assim como outras dificuldades de aprendizado ou processamento sensorial, podem ser complexas.
Alguns anos atrás, muitos desses distúrbios passavam desapercebidos. Crianças com TDAH, por exemplo, eram frequentemente rotuladas como bagunceiras ou desatentas. Na verdade, elas enfrentam verdadeiros desafios em manter a concentração, controlar impulsos e organizar atividades.
Atualmente, esse quadro mudou bastante. Com a evolução da ciência e uma maior difusão de informações, as características das neurodivergências têm sido reconhecidas como sinais neurológicos legítimos. Este reconhecimento tem impacto direto no aumento do número de diagnósticos. De acordo com dados recentes, uma em cada 41 crianças no espectro autista foi identificada, um aumento significativo ao longo das últimas décadas.
A importância do diagnóstico precoce
É fundamental lembrar que o desenvolvimento não acontece da mesma maneira para todas as crianças. Cada uma tem seu próprio ritmo, e isso não necessariamente indica que algo está errado. Contudo, quando os atrasos são persistentes ou afetam várias áreas ao mesmo tempo, é importante prestar atenção.
O diagnóstico precoce é uma ferramenta valiosa para crianças neurodivergentes. Quanto mais cedo as intervenções e terapias começarem, como fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicopedagogia, mais chances a criança terá de ganhar autonomia e desenvolver habilidades comunicativas.
Como identificar sinais de neurodivergência? Algumas ações de pais e responsáveis fazem uma grande diferença na detecção. Veja cinco dicas úteis:
1. Estimular desde o nascimento
Nos primeiros dias de vida, o cérebro de um bebê é extremamente moldável por meio de experiências e estimulações. Interações diárias oferecem oportunidades valiosas para o desenvolvimento sensorial, motor e emocional. A falta dessas experiências pode levar a atrasos.
O que fazer na prática?
- Converse com o bebê desde o início. Isso ajuda a desenvolver a linguagem e o vínculo emocional.
- Facilite o “tummy time”, ou tempo de bruços, para fortalecer os músculos do pescoço, costas e ombros, preparando o bebê para engatinhar e sentar.
- Apresente objetos com diferentes texturas, tamanhos e cores para estimular a curiosidade.
- Proponha brincadeiras que envolvam trocas de olhares, sons e movimentos, mesmo antes dos 6 meses.
- Nomeie objetos, pessoas e emoções, ajudando o bebê a reconhecer seu entorno.
2. Atenção aos comportamentos
Observar o comportamento da criança de maneira atenta e sem julgar é crucial para um diagnóstico precoce. Nem é necessário ser um especialista para notar quando algo não parece correto. Aqui estão alguns sinais de alerta:
- Evitar o contato visual ou responder pouco a estímulos sociais, como ser chamado pelo nome.
- Preferência por brincar com objetos em vez de interagir com pessoas.
- Participar de brincadeiras repetitivas que não têm significado simbólico.
- Apresentar atrasos notáveis na fala, como não balbuciar aos 12 meses ou não formar frases simples aos 2 anos.
- Ter reações intensas a sons, luzes ou texturas, como recusar roupas com etiquetas ou ter uma dieta extremamente seletiva.
- Ter uma resistência forte a mudanças na rotina, mantendo apego excessivo a hábitos estabelecidos.
3. Evitar o uso excessivo de telas
O uso prolongado de dispositivos como celulares, tablets e TVs pode prejudicar o desenvolvimento da criança. Os estímulos visuais rápidos e a passividade exigida podem atrasar a fala, a socialização e até o autocontrole emocional.
Isso ocorre porque as telas substituem interações reais, fundamentais para o desenvolvimento nos primeiros anos. O excesso de estímulos visuais pode dificultar a capacidade das crianças de lidarem com situações do dia a dia.
4. Não confiar unicamente na internet para diagnósticos
A internet é uma ótima ferramenta de informação, mas não deve ser usada no lugar do olhar profissional e qualificado. Pais preocupados com o comportamento dos filhos muitas vezes buscam respostas em vídeos ou redes sociais, o que pode causar ansiedade desnecessária e levar a diagnósticos incorretos.
Avaliações realizadas online não levam em conta o contexto familiar, social e clínico do indivíduo. Esperar por um suposto diagnóstico pode atrasar intervenções que são essenciais. Por isso, ao notar qualquer sinal de dúvida, é recomendado procurar um neuropediatra experiente em desenvolvimento infantil.
5. Confiar no tratamento indicado
O processo para diagnosticar neurodivergências pode ser longo e envolve vários métodos, como observação, aplicação de testes e entrevistas. Mas isso não significa que a família deve esperar para começar as intervenções.
Com o apoio profissional apropriado, já é possível iniciar terapias desde o início. Observar as respostas da criança durante o tratamento e ajustar o plano de acordo com a evolução são práticas importantes. Intervenções antecipadas podem ter um grande impacto na vida da criança.
Além de acompanhamento profissional, manter um estilo de vida saudável é essencial para o neurodesenvolvimento e o sucesso do tratamento. Dormir bem, ter uma dieta equilibrada, praticar atividades físicas, garantir boa hidratação e seguir corretamente as orientações de medicamentos prescritos são algumas práticas que fazem diferença.
O foco na estimulação e no cuidado é fundamental para garantir que todas as crianças tenham a oportunidade de se desenvolver de maneira saudável e plena.
