A série “Coração de Ferro” apresenta RiRi Williams, interpretada por Dominique Thorne, como uma protagonista impulsiva e cheia de falhas, similar a muitos heróis do Universo Cinematográfico Marvel (MCU). A Marvel, conhecida por criar personagens com características humanas, tradicionalmente mostra heróis brancos e masculinos, enquanto mulheres e pessoas não-brancas geralmente desempenham papéis de apoio. No entanto, RiRi se destaca como uma jovem forte que não se encaixa nessa norma.
A história começa quando RiRi é expulsa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde estudava com uma bolsa nomeada em homenagem a Tony Stark, após causar um acidente em seu laboratório. Ao retornar a Chicago, ela enfrenta traumas passados enquanto continua determinada a criar sua própria armadura, como a do Homem de Ferro. Para RiRi, a resposta à pergunta sobre o seu desejo de fazer isso é sempre a mesma: “Porque eu posso”. A showrunner, Chinaka Hodge, utiliza essa declaração para desenvolver o arco da protagonista, que envolve entender sua necessidade de se provar e as razões por trás de suas ações.
A série faz um estudo profundo sobre as origens de RiRi, mostrando como sua juventude e experiências influenciam suas decisões. RiRi demonstra características típicas da adolescência, como impetuosidade e arrogância. Dominique Thorne entrega uma performance forte, retratando uma super-heroína que usa o heroísmo como uma forma de escapar de sua realidade.
Os episódios iniciais, dirigidos por Sam Bailey, também se destacam visualmente. Eles são mais curtos e menos pretensiosos, apresentando Chicago de forma vibrante e direta, enquanto introduzem o drama de RiRi e suas experiências. A ação combina elementos físicos e uma movimentação dinâmicas, lembrando a fundação que deu origem ao MCU.
Entretanto, a série enfrenta dificuldades na sua parte final, especialmente ao explorar suas ideias mais profundas. O principal antagonista, chamado Capuz, é interpretado por Anthony Ramos. Ele recruta RiRi para realizar trabalhos destinados a expandir seu império criminoso, chantageando executivos de grandes empresas em Chicago. Através de um discurso atraente, ele convence RiRi a se envolver, prometendo-lhe apoio financeiro para suas pesquisas.
RiRi se vê em um dilema ao lutar contra pessoas que “querem que ela permaneça pequena”. Apesar da sedução desse discurso, a série segue uma linha narrativa que condena ações fora do sistema, destacando que confrontar a opressão de maneira combativa não é a solução certa. Essa abordagem é recorrente no MCU, onde a mensagem é frequentemente a de que reações mais incisivas à injustiça são ineficazes e moralmente problemáticas.
Como resultado, “Coração de Ferro” acaba sendo limitada em sua narrativa, especialmente em seu ato final, quando a história perde a dinâmica e fica arrastada. É lamentável que o talento de profissionais como Hodge, Bailey e Thorne seja utilizado para transmitir um ideário tão insatisfatório. RiRi Williams é uma personagem complexa e interessante, mas a série parece hesitar em explorar todo seu potencial.
