Egito antigo: novidades sobre homem de 4,5 mil anos por análise de DNA –

Em Nuwayrat, um pequeno vilarejo a cerca de 265 km de Cairo, Egito, foram encontrados os restos mortais de um homem que viveu há milhares de anos. Esse homem tinha características físicas que incluem pele escura, cabelos castanhos, olhos amendoados e altura de até 1,60 m. Ele também apresentava sinais de artrite avançada em seu pé direito e no pescoço. A análise genética apontou que 80% de sua ancestralidade era ligada ao norte da África, enquanto 20% tinha raízes no oeste da Ásia, especialmente na Mesopotâmia, que hoje corresponde ao Iraque e Irã.
Um aspecto intrigante desse indivíduo é sua ocupação. Apesar de as evidências sugerirem que ele trabalhava como oleiro, as características de seu sepultamento indicam uma posição social elevada, incomum para alguém de sua profissão. Ele foi enterrado em uma urna cerâmica, encontrada dentro de uma tumba escavada na encosta de Nuwayrat, em 1902, durante uma escavação. A urna foi posteriormente doada ao World Museum em Liverpool, onde resistiu aos bombardeios da Segunda Guerra Mundial.
Estudos de radiocarbono revelaram que o homem viveu entre 2855 e 2570 a.C., o que corresponde ao período logo após a unificação do Egito e durante a construção das primeiras pirâmides. Essa época é marcada por mudanças significativas na civilização egípcia, incluindo a transição para práticas de mumificação.
Pesquisadores conseguiram extrair DNA de um de seus dentes, utilizando ferramentas avançadas de sequenciamento genético. A análise do genoma, juntamente com o exame de seus ossos, possibilitou um entendimento mais detalhado de sua vida e suas características. Os dados indicam que ele teve uma jornada notável em um período crítico para o Egito Antigo.
O professor Linus Girdland-Flink, da Universidade de Aberdeen, destacou que a análise revelou uma tonalidade de pele que variava entre escura e preta. Essa descoberta reacende uma discussão sobre a ancestralidade e a aparência dos antigos egípcios, que frequentemente são retratados como brancos em filmes e obras contemporâneas. O trabalho de pesquisadores como Girdland-Flink e a geneticista brasileira Tábita Hünemeier visa desfazer estereótipos e preconceitos históricos sobre a civilização egípcia.
Além da tonalidade de pele, o estudo também sugere que a população egípcia da época não era homogênea e apresenta indícios de migração e contato cultural com outras civilizações, como as do Crescente Fértil. Isso pode ter influenciado o desenvolvimento de inovações significativas no Egito, como a escrita e a agricultura.
A urna e as evidências de sepultamento indicam que, embora o homem possa ter sido um trabalhador braçal, ele também poderia ter sido um artesão de destaque ou um comerciante bem-sucedido. O professor Joel Irish, especialista em Antropologia e Arqueologia, menciona que as marcas no esqueleto sugerem atividades relacionadas à cerâmica, mas o status social daquele sepultamento abre espaço para novas interpretações de sua vida e realizações.
A pesquisa apenas começa a desvendar os mistérios do antigo Egito e sugere que novas análises podem trazer mais informações sobre as dinâmicas sociais e culturais da época. A complexidade da história egípcia está cada vez mais à vista, revelando uma civilização rica e variada em sua composição e influências ao longo do tempo.
Por fim, a análise dos restos mortais, que hoje estão expostos em um museu no Reino Unido, levanta questões sobre a restituição de artefatos culturais aos países de origem. Essas discussões são cada vez mais relevantes no contexto contemporâneo, propondo um retorno à dignidade e à história das civilizações antigas que ajudaram a moldar o mundo.