Irmão identifica corpo de homem morto por polícia pelo tênis –

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A família de Guilherme Dias Santos Ferreira, de 26 anos, soube da sua morte de forma trágica. O irmão mais novo, Mateus, de aproximadamente 20 anos, saiu de bicicleta na madrugada de sábado (5) em busca de Guilherme, que havia desaparecido desde a noite anterior. Após percorrer diferentes bairros da zona sul de São Paulo, ele encontrou o corpo do irmão, coberto por uma manta metálica. Mateus reconheceu o par de tênis de Guilherme e viu que o celular da vítima estava tocando, com chamadas da cunhada, que tentava entrar em contato há horas.
O relato foi feito por Larissa Souza Santos, prima de Guilherme e técnica de segurança do trabalho. Ela cresceu junto com ele e recebeu a notícia por telefone de que o irmão havia sido encontrado. Mateus suspeitou que Guilherme tinha sido morto a tiros e imediatamente avisou os outros familiares.
Guilherme, um homem negro com emprego como marceneiro, foi atingido na cabeça por um tiro disparado por um policial militar enquanto corria para pegar um ônibus na noite de sexta-feira (4). Ele havia acabado de sair do trabalho. O policial, Fábio Anderson Pereira de Almeida, estava à paisana e reagiu a uma tentativa de assalto à mão armada feita por um grupo de motociclistas.
De acordo com a versão do policial, ele acreditou que Guilherme estava envolvido na tentativa de roubo e disparou contra ele. O PM foi autuado por homicídio culposo, pagou uma fiança de R$ 6.500 e responderá ao processo em liberdade.
A procura por Guilherme começou por volta das 2h, após sua mulher acordar e perceber que ele não havia voltado para casa. Ela havia recebido uma mensagem dele às 22h28, logo após verificar seu horário de saída no trabalho. Guilherme foi morto apenas sete minutos depois, às 22h35. Sem notícias dele, a família se mobilizou. Mateus, a pedido da cunhada, foi até a casa da irmã, na esperança de que Guilherme apenas tivesse perdido a chave de casa e estivesse buscando ajuda.
Após não encontrá-lo na casa de sua irmã, Mateus decidiu ir à empresa onde Guilherme trabalhava, a Dream Box, que fica a cerca de cinco quilômetros de distância. Quando chegou lá, viu viaturas e policiais ao redor de um corpo na estrada ecoturística de Parelheiros, a cerca de 800 metros da empresa. A notícia da morte de Guilherme começou a se espalhar por volta das 4h.
Larissa, a prima, expressou a dor da perda, afirmando que nunca esperava que Guilherme, que era querido por todos, tivesse um destino tão trágico.
Normalmente, Guilherme saía do trabalho às 17h, mas naquele dia decidiu ficar por mais cinco horas, o que lhe garantiria um pagamento extra. Ao sair da empresa, ele e outros colegas foram abordados por um grupo, e suas vidas se cruzaram de forma fatal. Um amigo de Guilherme que estava ao seu lado no momento do disparo foi algemado e imobilizado no asfalto.
Guilherme não era uma pessoa envolvida com vícios e cuidava de suas companhias, evitando pessoas com má reputação. Ele era muito religioso e frequentava uma igreja pentecostal local. Recentemente, tinha sido promovido e estava economizando para tirar a Carteira Nacional de Habilitação, um de seus sonhos, assim como o desejo de ser pai, algo que ele planejava para o futuro próximo.
O policial que disparou contra Guilherme foi afastado das ruas e designado para atividades administrativas. Ele está agora junto a outros dois policiais do mesmo batalhão, que também foram afastados após a morte de um estudante de medicina em um incidente anterior.
O ouvidor das polícias de São Paulo, Mauro Caseri, afirmou que o policial agiu de maneira imprópria, desrespeitando os protocolos da corporação ao não identificar a situação antes de agir, resultando na morte de um homem inocente.