Queda nas notícias aponta tendência em desertos informativos –

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O Atlas da Notícia, considerado o maior estudo sobre jornalismo local no Brasil, revelou uma diminuição no número de municípios sem veículos de informação, conhecidos como desertos de notícias. Na edição de 2023, a pesquisa mostrou que a participação desses municípios caiu de aproximadamente 49% para 45%. O estudo foi divulgado recentemente.
Sérgio Lüdtke, presidente do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, explicou que essa queda deve-se principalmente ao crescimento do jornalismo online. No entanto, ele destacou que essa expansão é vulnerável e volátil, com muitos veículos digitais abrindo e fechando rapidamente. Lüdtke observou que essa situação reflete a determinação dos jornalistas em criar conteúdo informativo em áreas carentes, mas também aponta para a fragilidade do mercado.
Muitas das iniciativas online são projetos individuais, incluindo blogs e perfis em redes sociais. Apesar do aumento no número de veículos digitais, a situação das mídias tradicionais, como rádios e jornais impressos, permanece estável ou até em declínio. Lüdtke indicou que a dinâmica no meio digital é complexa, pois novos projetos podem não se estabelecer de forma duradoura.
O levantamento identificou um total de 2.504 desertos de notícias, que atendem cerca de 21 milhões de pessoas. Em contrapartida, foram encontrados 3.066 municípios com veículos de informação, abrangendo mais de 180 milhões de habitantes. Dentro desses, 1.808 têm apenas um ou dois veículos, sendo classificados como “quase desertos”. Essa categoria teve um aumento na participação, subindo de 29,4% para 32,5%.
Outro ponto destacado na pesquisa é a necessidade de investigar o futuro dos arquivos digitais dos veículos que encerram atividades. Muitas vezes, não se tem informações claras sobre quando as operações são encerradas, o que pode dificultar a preservação de registros históricos. Um exemplo citado foi o Diário Popular de Pelotas, um jornal centenário que fechou o impresso e continuou online, mas após encerrar suas atividades digitais, parte da história da cidade pode ter sido perdida devido à falta de cuidados na preservação.
A pesquisa também revelou mudanças significativas no Nordeste, uma região que anteriormente tinha o maior número de desertos. Em 2020, 66% dos municípios nordestinos eram desertos de notícias. Agora, esse número caiu para 49,6%.
O estudo recebeu financiamento do Google e contou com a colaboração de mais de 200 voluntários de cerca de 80 organizações, incluindo a maioria de universidades, na coleta de dados que começou em outubro.