Morre jornalista Marcelo Beraba, aos 74 anos, no Rio –

O jornalista Marcelo Beraba trabalhou no Estadão de 2008 a 2019 Foto: Werther Santana/Estadão
Marcelo Beraba, renomado jornalista brasileiro, faleceu nesta segunda-feira, 28 de agosto, no Hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro, aos 74 anos. Conhecido por sua dedicação ao jornalismo ético e investigativo, Beraba acumulou mais de 50 anos de experiência em importantes veículos da mídia nacional, como O Globo, TV Globo, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Estadão. Durante sua carreira, passou pelas redações do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, sempre deixando sua marca pela organização e integridade na apuração de informações.
Beraba iniciou sua carreira em 1971, como repórter no jornal O Globo, enquanto ainda estudava Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Um de seus trabalhos mais notáveis ocorreu em 1981, quando cobriu um atentado no Riocentro, que matou um sargento do Exército e feriu gravemente outro militar. Na época, o Brasil ainda vivia sob regime militar. Sua apuração ajudou a revelar que o governo tentava forjar o atentado como uma ação comunista, contribuindo para o movimento Diretas Já, que buscava a redemocratização do país.
Em suas próprias palavras, Beraba ressaltou a importância da imprensa em momentos críticos da história, afirmando que o Caso Riocentro exemplifica como o jornalismo pode atuar em defesa da democracia. Durante sua trajetória, ele também foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), surgida em 2002 em resposta ao assassinato do jornalista Tim Lopes. A Abraji tem como objetivo promover a liberdade de imprensa e melhorar as técnicas de jornalismo investigativo no Brasil.
Beraba ocupou diversos cargos de liderança nas redações ao longo da carreira, incluindo editor e ombudsman. Ele sempre defendeu a máxima checagem de informações antes da publicação, sendo rigoroso nesse aspecto, mesmo antes da popularização das fake news. No Estadão, atuou como editor-chefe e diretor das sucursais do Rio de Janeiro e Brasília até 2019. Seu método de trabalho incluía um planejamento detalhado das coberturas e um forte compromisso com a precisão dos dados.
Nos protestos de 2013, que começaram como manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus, Beraba esteve à frente da sucursal carioca do Estadão. Ele orientou sua equipe para abordar o movimento com a consciência de que aquilo mudaria a história do país. Essa visão é compartilhada por muitos analistas, que apontam os protestos como o início da polarização política no Brasil.
Em 2017, enquanto era diretor da sucursal em Brasília, Beraba foi responsável pela cobertura da lista de investigações no Supremo Tribunal Federal relacionadas à operação Lava Jato, um marco no jornalismo brasileiro.
Marcelo Beraba também se destacou por sua dedicação ao jornalismo esportivo, participando ativamente da cobertura de grandes eventos, como Copas do Mundo e Olimpíadas. Mesmo após se afastar das redações, ele continuou envolvido no jornalismo, como quando planejava escrever um livro sobre técnicas de apuração.
Em março deste ano, Beraba foi diagnosticado com um tumor cerebral. Ele se submeteu a uma cirurgia em abril, mas não conseguiu se livrar totalmente do tumor. Durante o tratamento, manteve-se curioso e disciplinado, lendo sobre o cérebro e suas funções. Sua companheira de longa data, Elvira Lobato, testemunhou que ele permaneceu calmo e forte durante toda a luta contra a doença.
Na sua última internação, Beraba foi visto lendo “O reino deste mundo”, de Alejo Carpentier, e comentando sobre os conteúdos históricos. Nascido em 1951 no Rio de Janeiro, ele vivenciou e participou da rica cena cultural e política da cidade durante sua juventude.
Marcelo Beraba será lembrado como um mestre no jornalismo, tendo formado e inspirado muitas gerações de jornalistas. Ele deixa duas filhas, Ana Luíza e Cecília, assim como mais dois filhos, João e Olívia, e três netos, que eram uma grande fonte de alegria em sua vida. A sua contribuição ao jornalismo brasileiro deixou um legado significativo e será profundamente sentida entre colegas e alunos.